Fonte: Fabio Reynol - Agência Fapesp - 06/08/2010Super câmeras
  Uma rede formada por câmeras de vídeo de alta resolução entrará em  atividade até o início de 2011 para filmar tempestades na região de São  José dos Campos (SP).
  As câmeras integrarão o projeto Rammer ("Rede Automatizada  Multicâmeras para o Monitoramento e Estudo de Raios"), ligado ao  Temático e conduzido como trabalho de pós-doutoramento do engenheiro  eletricista Antonio Carlos Varela Saraiva, do Instituto Nacional de  Pesquisas Espaciais (Inpe).
  As três câmeras que darão início à rede contam com duas  características fundamentais para o estudo de raios: alta velocidade de  gravação e boa qualidade de imagem. Elas são capazes de registrar até 2  mil quadros por segundo com resolução de 1.280 por 720 pixels.
  A ideia é que as câmeras registrem diferentes ângulos de uma mesma  tempestade, o que ampliará o número de raios registrados por minuto e  aumentará a qualidade das informações. "Com isso, será possível observar  detalhes finos do raio", disse Saraiva à Agência FAPESP.
 Estudo dos raios  
Há alguns anos, a equipe do Elat começou a estudar raios com a ajuda  de câmeras de alta velocidade. Duas câmeras foram utilizadas, porém de  maneira independente.
  Ao apontar apenas uma câmera para uma tempestade, a quantidade de  registros é limitada a uma média de 4% do total de raios daquela  tormenta, podendo chegar a 10% em dias mais favoráveis. "Ficávamos  sempre na dúvida se os raios registrados representativos eram daquela tempestade. Agora, com a rede de câmeras, essa
amostragem aumentará",  explicou Saraiva.
Outra inovação da rede Rammer é a automatização da operação das  câmeras de vídeo. "Até então, precisávamos designar alguém para apertar o  gatilho das máquinas sempre que ocorria um raio", disse.
   A rede a ser montada funcionará com uma série de sensores. Alguns  estão sendo desenvolvidos pela equipe do Elat, como um arranjo de  fotodiodos para captar descargas de retorno de um raio.
  Esse dispositivo é utilizado para contar as descargas durante a  filmagem e o objetivo é que forneça também um dos parâmetros que  dispararão as câmeras da rede. "Estamos recriando o equipamento para que  sirva de disparador da câmera", explicou Saraiva.
  Outro parâmetro para o disparo será fornecido pelo sensor de campo  elétrico, que detecta sinais da radiação eletromagnética emitida pelas  descargas de retorno. Os dois sensores funcionarão em conjunto e as  câmeras só serão acionadas se ambos perceberem sinais da ocorrência de  um raio.
  Se os fotodiodos atuassem sozinhos, o sistema poderia ser acionado  por outras ocorrências, como voos de aves ou outros sinais detectados  por esse tipo de sensor. Da mesma maneira, o sensor de campo elétrico  isolado não garante a precisão do monitoramento. Por isso, o gatilho a  ser desenvolvido no Elat contará com as duas tecnologias.
  Um motor automatizado para direcionar as câmeras também está sendo  desenvolvido desde o ano passado. Acoplado a outro dispositivo de  fotodiodos, o sistema eletromecânico deverá apontar a câmera para a  região de maior incidência de descargas, baseando-se 
 nos registros do  sensor.
  Filmar raios
  Serão escolhidos três pontos em São José dos Campos para abrigar cada  uma das câmeras, que ficarão distantes cerca de 20 quilômetros uma da  outra. "Caso uma tempestade isolada, que tem um raio de cerca de 10  quilômetros, passe entre os sensores, conseguiremos captar vários  ângulos dessa tempestade e uma quantidade muito maior de raios", estimou  Saraiva.
  Por serem mais versáteis, as novas câmeras também permitirão que os  pesquisadores escolham o tamanho dos arquivos gravados. Conforme a  tempestade, eles poderão escolher entre ter uma boa qualidade de imagem  para examinar os raios em detalhes ou obter imagens com menor resolução  em troca de velocidades muito maiores de gravação, o que permitirá  contabilizar descargas e acompanhar a dinâmica do evento.
  Saraiva estima que a Rammer permitirá captar mais de 50% dos raios  ocorridos em uma tempestade e aumentará o detalhamento das análises.  "Poderemos nos debruçar sobre os raios de uma única tempestade e não  mais misturar raios de tempestades diferentes
 , como pode ocorrer em  alguns estudos atuais", disse.
  Essa análise individual de raios e tempestades a ser proporcionada  pela rede de câmeras é um dos principais objetivos do projeto e  aumentará o conhecimento na área, uma vez que essas descargas diferem de  uma tempestade para outra.
  Modelo 3D de um raio
  O grupo também espera coletar informações suficientes para elaborar  uma modelagem em três dimensões do canal de um raio, desde a sua  formação até o ponto de contato.
  "Esse é um objetivo mais ambicioso e que auxiliará no estudo da  morfologia do raio. Permitirá também uma comparação entre os resultados  do modelo e as medições feitas pela rede de câmeras", disse Saraiva.
   Entre os benefícios, o trabalho ajudará na validação dos dados do  Sistema Brasileiro de Detecção de Descargas Atmosféricas ( BrasilDat),  que detecta descargas elétricas no país e é operado pelo Elat em  parceria com outras instituições brasileiras.
  Saraiva explica que, como qualquer rede de detecção de raios, a  BrasilDat apresenta incertezas na localização de raios e limitações na  eficiência de detecção.
  Para conferir os dados coletados em vários pontos da BrasilDat o  projeto pretende, em uma segunda etapa, levar as câmeras da Rammer a  outras localidades no Estado de São Paulo. Por enquanto, os  pesquisadores pretendem
contar com a rede de câmeras funcionando em São  José dos Campos para registrar as tempestades do próximo verão.

Os pesquisadores querem coletar informações suficientes
                                                                                                                                                                                            para elaborar  uma modelagem em três dimensões do canal
                                                                                                                                                                                           de um raio, desde a sua  formação até o ponto de contato.
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