Antigamente, as crianças que viviam perto do rio eram advertidas pelos pais quanto ao risco de ficar no rio quando ocorrer um temporal. Diziam eles que a água "puxa" os raios. Os antigos, que viveram a fase da navegação no rio Cai, entendiam mais do rio e dos seus perigos.
Já os mais jovens não levavam muito a sério esta advertência. Afinal, não se tinha conhecimento de nenhum caso acontecido no Caí de uma pessoa ser atingida por um raio quando estava no rio.
Agora, no entanto, a história mudou. Na tarde da última quinta-feira, por volta de duas horas, chovia e caiam raios. Mesmo assim tinha gente dentro do rio, em caícos, fazendo pescaria.
Um pouco abaixo do baixio, em frente aos paredões do Morro dos Berwanger, João Almir de Sousa, também conhecido pelo apelido de Deco, pescava sozinho, dentro de um caíco, no meio do rio. Perto dele um o amigo André Barth também pescava, num outro caíco.
De repente, André ouviu um estrondo assustador. Recuperando-se do susto, ele olhou para o caíco em que se encontrava João e viu que ele estava caído dentro da embarcação. André remou até lá e viu que João estava morto. Vendo que não podia fazer nada para salvá-lo, André puxou o caíco avariado para a margem do rio, para evitar que afundasse.
Telefonou, então, para os bombeiros, que recolheram o corpo e o encaminharam para a realização da perícia.
O raio causou uma rachadura no fundo do caíco.
João, que tinha 43 anos, já foi funcionário da Oderich. Trabalhava ultimamente como autônomo, fazendo trabalhos de jardinagem e servente de pedreiro.
Era pessoa pacata e bem quista por todos. Já foi casado, mas separou-se e vivia sozinho, no bairrro Navegantes. Deixou um filho, com 23 anos, que é casado e mora na Vila Rica, e dois netos.
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