sábado, 10 de novembro de 2007

Raios Monitorados II

Sensor detecta raios em até 8 mil quilômetros do local da queda Valéria Dias - Agência USP 05/10/2007

O Brasil já conta com um sistema de sensores que medem a incidência de descargas elétricas (raios) numa distância de até 8 mil quilômetros do local da queda, o que permite a detecção de mais de 80% dos raios que caem em território nacional.

Detecção de raios

O Projeto Word Zeus, que acaba de ganhar o terceiro sensor, instalado em Campo Grande (MS), é o responsável pela coleta desses dados e os disponibiliza gratuitamente via internet e em tempo real. Esses dados são úteis para a meteorologia, a aviação e até a defesa civil. "Existem sistemas semelhantes tanto no Brasil como no exterior, mas a vantagem do World Zeus é a eficiência com que detecta o raio e o fato de o acesso aos dados ser gratuito", conta o coordenador do projeto no Brasil, o professor Carlos Augusto Morales Rodriguez, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP.

Monitoramento de chuvas e tempestades

Morales explica que por meio da incidência de raios em um local, é possível monitorar tempestades e furacões e melhorar o cálculo da precipitação (chuvas) em regiões remotas. "A quantidade de raios dentro de uma nuvem é proporcional ao gelo que há dentro dela. Quanto mais gelo, mais turbulência. E quanto mais turbulência, maior é a possibilidade de ocorrer tempestades e furações", explica. Os outros dois sensores do Projeto World Zeus estão no campus da UECE, em Fortaleza (CE), e nas instalações do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), em Cachoeira Paulista (SP) - a 111 quilômetros de São Jose dos Campos (SP). O Projeto mantêm ainda sensores instalados na ilha francesa de Guadalupe (no Caribe), o que permite monitorar tempestades em toda a costa do Atlântico e na África. "Até o final deste ano, compraremos mais um sensor que, provavelmente, será instalado em Manaus (AM)", informa Morales.

Colaboração com a NASA

Há ainda outros três sensores instalados no continente africano, na Tanzânia, África do Sul e Etiópia. "Em 2006, a Nasa nos convidou para integrar o NAMMA [sigla em inglês para Análise Multidisciplinar das Monções Africanas] e custeou toda a infra-estrutura para a instalação desses equipamentos", conta o professor. A Agência Aeroespacial Americana também arcou com parte dos custos do sensor instalado em Campo Grande. "O restante veio dos recursos do Projeto Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), que também custearam os sensores de Fortaleza e São Paulo", conta. O sensor da Ilha de Guadalupe foi custeado pela Universidade de Las Vegas.

Estática

Os sensores detectam os raios por VLF (Very Low Frequency), freqüência de ondas
curtas, de 7 a 15 quilohertz (Khertz). "Ao cair, o raio libera uma energia que gera um ruído, chamado estática, que se propaga pela atmosfera. Ela bate na terra, sobe para a ionosfera, desce para a terra, sobe para a ionosfera, e assim sucessivamente até perder toda a energia", explica Morales. "Quando um raio cai, todos os sensores que estiverem a uma distância de até 8 mil quilômetros do local de queda dessa descarga elétrica irão receber o sinal da estática produzida", esclarece o professor. O aparelho, fabricado pela empresa norte-americana RDI (Resolution Display Incorporeted) custa cerca de U$30 mil. Eles pesam cerca de 6,5 quilos e têm 50 centímetros (cm) de altura, 30 cm de largura e 10 cm de profundidade. São compostos por uma antena, que mede o campo elétrico do raio, e de um aparelho GPS (Sistema de Posicionamento Global), sincronizado com o relógio atômico do satélite.

Sensor nacional

"A idéia, agora, é desenvolver toda a tecnologia e montar um aparelho totalmente brasileiro. O custo final deverá ficar em torno de R$3 mil", conta o professor, que já desenvolveu alguns protótipos do sensor. "Além de baratear os custos, o aparelho será interessante para levar a prática da Meteorologia para a sala de aula, pois é uma área muito teórica."

Raios no mundo

Os lugares com a maior incidência mundial de raios por quilômetro quadrado ao ano são a região central da África, a região da Flórida (EUA), o sul da América do Sul e o norte da Índia. O Brasil ocupa o 7º lugar do ranking. Na listagem por cidades, o 1° lugar é de Kamembe, em Ruanda, seguida por Boende, Lusambo e Kananga, na República Popular do Congo. A cidade de Campo Grande ocupa a 21ª posição.

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